O Aikido e sua filosofia criativa (parte 1)
Fui apresentado superficialmente ao Aikido da mesma forma que a maioria dos jovens expostos à TV aberta dos anos 90: pelos filmes do Steven Seagal.
Por muitos anos pensei que o Aikido fosse apenas mais uma arte marcial performática que rompia ligamentos e quebrava ossos. Quem diria.
Embora tenha praticado artes marciais “meia-bocamente” ao longo da vida, sempre tive a ideia de que se exercitar por meio da prática de uma arte marcial seria mais interessante do que ir à academia. Porém, por ser professor, a ideia de ministrar aulas com a cara roxa ou com um braço torcido me afastou de praticar algumas modalidades. Além disso, o espírito de competição excessiva fomentado por UFCs e cia. contaminaram diversas artes e academias, o que contribuiu de certa forma para que não me adaptasse à alguns locais que frequentei. Ainda assim, a busca da filosofia por trás de cada arte marcial me fez praticar Judô por quase dez anos e Kung-fu por quase dois. Me identifiquei muito com cada uma delas, mas ainda havia algo que faltava, mesmo sem saber o que era.
Certa vez, em um curso interno de “resolução de conflitos” no Senac, o Aikido foi citado constantemente pelo professor como uma arte que tinha como filosofia o não enfrentamento. Em quase todas as explicações sobre como se portar em conflitos do cotidiano, o Aikido aparecia em sua fala como uma resposta leve e profunda. E essa característica tão peculiar me fisgou.
Fui em busca de um dojo e encontrei a Samuru Aikido, do Sensei Saulo Martins, na boa e velha Zona Norte de São Paulo. Fui apresentado por ele aos movimentos básicos e logo percebi a diferença desta arte marcial para tantas outras: suas técnicas buscavam não usar força alguma para se defender. Para tanto, seria necessário harmonizar-se integralmente com a energia do seu oponente. As demonstrações feitas pelo Sensei foram executadas com movimentos aparentemente simples e obtiveram resultados tão impressionantes que fiquei me perguntando se não estaria presenciando uma luta simulada, ao estilo lucha libre.
Com poucos treinos já percebi que a prática do Aikido revelava características profundas em seu praticante. Cada movimento se tornava uma verdadeira aula de como perceber o outro e se unir a ele em rápidos momentos. Suas técnicas se originam do manejo de armas orientais, como a famosa katana, a espada samurai.
Para a cultura japonesa, tudo está conectado. A alimentação se relaciona com a agricultura familiar. A decoração do lar se relaciona com os fluxos de energia. Os arranjos de Ikebana são um reflexo do interior de quem os prepara, da mesma forma que o jardim de uma pessoa reflete seu estado de espírito. O praticante do Aikido se conecta com sua espiritualidade, sua religiosidade e com o próximo, na busca de harmonizar-se com o universo.
E o que isso tem a ver com criatividade?
Pra quem já segue o Esticando a Baladeira, sabe que uma das etapas vitais do processo criativo é o exercício da empatia, do deixar-se afetar. Embora isso seja apenas uma leve flertada com o tema, nos próximos artigos irei aprofundar mais essas relações entre a prática do Aikido e a criatividade. Será que dá pra esticar mais esse assunto?
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