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Criatividade para mudar a política

“Toda Causa tem o seu Efeito; todo Efeito tem a sua Causa; tudo ocorre de acordo com a Lei; (…)

As massas de pessoas são carregadas adiante, de acordo com o ambiente onde vivem, com os desejos e as vontades dos mais fortes, que lhes superam. A hereditariedade, as ideias prontas e outras causas que lhes são externas as movimentam pra lá e pra cá, como peões no Xadrez da Vida. Os Mestres, porém, elevando mentalmente a si mesmos para planos superiores, dominam o seu humor, seu caráter, suas qualidades e capacidades, assim como ao próprio ambiente a sua volta, e se tornam Jogadores ao invés de peões.” (O Caibalion)

Compartilhando o imaginário

A arte é importante porque facilita nossa compreensão do caos que é a realidade.

Pensar nisso me faz lembrar de um filme ao mesmo tempo caótico e profundamente real: Mad Max: estrada da fúria, do diretor australiano George Miller.

Naquele cenário pós apocalíptico o mundo foi jogado numa realidade de escassez de recursos onde falta inclusive água para a população. Numa pequena comunidade de pessoas miseráveis e sedentas, um governante violento, Immortan Joe, controla o modo como as pessoas têm acesso aos recursos que garantem suas vidas.

Em uma das cenas que representam esse controle o tirânico líder oferece poucos minutos de acesso à água para as pessoas e, enquanto o faz, dita para que todos ouçam um discurso sobre os perigos da água, como ela pode viciar, como não devem sucumbir à tentação de tornarem-se viciados no que chamam de Aqua cola. Numa clara referência à outro vício relativamente comum hoje em dia.

“Nunca, meus amigos, fiquem viciados em água. Vocês sentirão muito a sua falta”.

Pensamento absurdo, mas perfeitamente encaixado numa lógica que já foi usada por muitas instituições religiosas e também por governos supostamente democráticos. Essa lógica de distorcer a realidade em favor de um discurso que favoreça seus próprios interesses é uma ferramenta de manipulação das opiniões alheias tão antiga quanto a própria humanidade, e que se estabelece justamente na atuação política da pequena parcela de uma população sobre uma grande maioria que está ocupada demais com a própria sobrevivência para atuar ativamente em resposta a esse controle. É jogando com o imaginário social que grande parte dessa dominação se mantém.

Mas de que tipo de imaginário estamos falando? E o que isso tem a ver com política e criatividade? Para tentar responder a essas questões será preciso antes estabelecer o terreno sobre o qual nos debruçamos para apresentar nossos argumentos, o espaço onde a política e a criatividade atuam e sobre o qual tem imensa influência: o terreno do imaginário.

Mas o imaginário ao qual me refiro não é o mesmo que se percebe no senso comum: não se trata de uma imagem mental que somos capazes de formar conscientemente; tampouco é o sentido usado pelo famoso psicanalista francês Jacques Lacan, de algo irrepresentável, da ordem da alucinação e em contraste com o real. O imaginário que quero tratar diz respeito ao sentido descrito pelo poeta Edouárd Glissant no livro Poética da relação (1997). Segundo ele, quando fala de imaginário está se referindo  ao conjunto de “todos os modos que uma cultura tem de perceber e conceber o mundo” (Glissant, 1997, p. xxii). Isso pode ser melhor entendido se fizermos uma breve digressão.

O significado que atribuímos às palavras surgem de convenções culturais. Palavras como “governo” e “política” já existiam quando nasci, e, justamente por isso, até começar a questionar sobre suas origens às tratei como se fossem naturais, como se fossem independentes do ser humano para existir e sempre estivessem aí, no mundo. Mas, se encararmos uma perspectiva histórica cultural, palavras e ideias parecem fazer parte da imaginação, uma imaginação tão forte, que assumimos como realidade. Nessa atitude de aceitação da realidade – que pode ou não ser consciente – nos submetemos a uma série de regras que regem a vida em sociedade, e que, por conseguinte, definem nossa noção do que é real. A ideia de dinheiro é um exemplo disso. Sejam papéis, metais ou simplesmente números aparecendo em uma tela, o dinheiro define se temos mais ou menos poder de comprar as coisas. Simplesmente confiamos na ideia de que isso faz sentido e é real, porque “acreditamos” que sempre foi assim, e isso basta.

As regras que definem nossa sociedade fazem parte dessa imaginação compartilhada, que ajudam a construir os aspectos formadores de nossa cultura, o modo como construímos nossa própria individualidade e até mesmo o nosso conceito de nação. Isso se baseia, em parte, na proposta de Benedict Anderson (1989) sobre as Comunidades Imaginadas. Quando apresenta seu conceito de nação o autor escreve:

uma comunidade política imaginada – e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana. (…) é imaginada porque mesmo os membros da mais minúscula das nações jamais conhecerão, encontrarão ou nem sequer ouvirão falar da maioria de seus companheiros, embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre eles. (Anderson, 1989, p. 32)

Outro importante exemplo disso – que aponta para o que esse texto pretende discutir – é a ideia de democracia. Na proposta de uma sociedade democrática a ideia é a de que se exige participação de todos para se realizar a democracia. O que vemos acontecer na prática é que nem todos assumem essa responsabilidade de participar das decisões políticas. Mais tragico ainda é a falta consciência dessa responsabilidade. E, quando relaxamos, quando não nos importamos com a política, acabamos deixando outros tomarem o poder de decidir nossas vidas. Não existe vazio na política, o espaço de poder sempre é ocupado por “alguéns”! Despolitizar as pessoas é um jeito de criar essa desistência, os vácuos a serem ocupados. Isso pode ser feito usando as grandes ferramentas de comunicação de massa; e também utilizando as tais notícias falsas, capazes de mobilizar todo um imaginário social, contra ou a favor de determinadas ideologias. Fazer você pensar que todo político é corrupto, que a política é suja e você não deveria se envolver com isso, é um jeito de te deixar de fora, um jeito de garantir que quem exerce real poder continue nessa condição e ainda aumente sua diferença em relação a quem não tem poder algum. Essa é uma forma perigosa de se usar a força que mídias como a TV e a internet representam. Uma força potencialmente devastadora e um poder que atua, basicamente, a partir do nosso imaginário. 

Administrando os espaços da política

A política trata da ocupação de diferentes espaços de poder. Essa ideia se explica quando imaginamos os modos como a política atua na sociedade. Existe a Política do cotidiano e a política institucionalizada: o espaço político nosso e aquele ocupado pelas pessoas eleitas por nós. Percebe aí que parece existir uma espécie de divisão relacionada ao pertencimento? Como se o espaço que deveria pertencer a todos tivesse sido quase que tomado por uma parcela de pessoas, uma parcela que costuma se esforçar ao máximo para manter os privilégios que vêm com o domínio desse espaço?

Essa noção de pertencimento é algo que mexe com a nossa criatividade, justamente porque se refere ao gerenciamento e à administração da vida em sociedade. Algo que só é possível graças à nossa capacidade de inventar soluções para o conjunto dinâmico de complexidades do cotidiano em sociedade. A aplicação do sistema político democrático encontra seus limites quando se depara com essa realidade.  Porque  pessoas vivendo em grupo geram problemas, e é dos problemas que surgem as ideias criativas. Nesse sentido uma pista para tornar-se ativo na disputa pelo espaço das questões públicas seria inventar novas formas de gerir as questões sociais, ser um cidadão (cri)ativo. Para explorar essa opção podemos recorrer a um dos trabalhos do filósofo italiano Giorgio Agamben, especificamente a sua noção de oikonomia.

Oikonomia em grego quer dizer “economia”. O termo inicialmente se referia à gestão da casa, mas com o tempo passou também a significar outras formas de gestão, mais improvisadas, como a gestão das emoções do público em um discurso político, por exemplo, ou a gestão de conflitos numa nação multicultural. Agamben disse no seu livro O reino e a glória (2011) que os teólogos cristãos quando discutiam sobre as regras que regem o catolicismo, costumavam fazer referência a essa tal oikonomia, a gestão e a administração de um conjunto de práticas e relações. Agamben também diz em sua análise do conceito que o próprio Deus, segundo o dogma cristão, praticava a oikonomia. Segundo o autor, Deus tem que “administrar” sua relação com a Criação, o que significa, “administrar” a relação de Deus com o próprio Deus. Ele se referia à ideia da santíssima trindade. A vida interior de Deus – a trindade – tem a sua própria “economia”, que permite que a mesma administre sua “economia da salvação”. Seria então uma oikonomia trinitária. A administração da complicada forma de ser de Pai, Filho e Espírito Santo, três em um.

Podemos entender que essa foi uma das várias ações dos conselhos monásticos responsáveis pela administração da Igreja Católica em seu período de formação como a gigantesca instituição que viria a se tornar. A oikonomia foi um dos modos como os estudiosos da fé organizaram o entendimento dos dogmas católicos, na tentativa de pôr em ordem contradições presentes no encontro entre as diferentes interpretações dos textos bíblicos que surgiram quando a igreja se espalhou pelo mundo.

Administrando a política nos espaços

O mistério da santíssima trindade é um dos melhores exemplos de como administrar contradições. Segundo Giorgio Agamben, a vida interior de Deus – a trindade – tem a sua própria “economia”, a administração da complicada forma de ser de Deus, pai, filho e espírito santo ao mesmo tempo, três em um. É nesse ponto que nos encontramos com a relação entre política e criatividade. Tentemos acompanhar o raciocínio construído para a trindade, aplicando-o ao modo como percebemos o gerenciamento da vida em sociedade no mundo contemporâneo.

O ponto de conexão entre a oikonomia trinitária e o jeito mais comum de governo no ocidente hoje não é a administração da Trindade, mas o seu desenvolvimento no paradigma da providência. Essa doutrina retrata o governo ou a gestão que Deus faz do mundo como fundamentalmente econômica, o que significa que Deus prefere usar meios indiretos para alcançar seus objetivos. Deus não nos obriga a nada. Em vez disso, Deus opera pelo nosso livre arbítrio, que Ele indiretamente manipula para atingir seus objetivos. Alguns exemplos disso estão em descritos nos textos bíblicos: “você pode fazer o que quiser, mas comer daquela maçã é proibido”, ou então, “façam o que quiserem, mas se exagerarem vou mandar um dilúvio”. São exemplos imperfeitos, mas é assim que, supostamente, a economia moderna trabalha, já que todas as nossas escolhas contribuem para resultados sentidos devido à intervenção da mão invisível (que, na verdade, seria uma versão secularizada da mão de Deus, como Agamben explica).

Assim, tanto Deus quanto o governo nos controlam através do nosso livre arbítrio, isto é, a gente faz o que quiser mas isso tem consequências que na prática alimentam um sistema de funcionamento social que mantém poucos explorando muitos. Ou seja, quando a ideia que vale é “cada um por si” o resultado costuma ser uma minoria concentrando privilégios às custas de muitos. Cada um por si, Deus (e o Leviatã) contra todos! Nessa lógica, as nossas escolhas com resultados negativos seriam o “efeito colateral” do sistema. No sistema teológico, Deus faz uso do dano colateral para extrair o bem do mal – “há males que vem para o bem”. Já o sistema secular de governo pode utilizar certos tipos de “danos colaterais” (por exemplo, o modus operandi do capitalismo, que, por vezes, deixa as pessoas carentes e sem-teto) como um estímulo a uma maior obediência e produtividade das pessoas que temem tornar-se “danos colaterais” a si mesmos. É como se o que me fizesse jogar esse jogo sujo fosse o medo de ser eu o explorado no processo. E pra evitar isso eu tenho que procurar ser o explorador. Mas aí eu pergunto: e se eu aprendesse as regras e começasse a propor novos jeitos de jogar? Eis o espaço para a criatividade.

Partilhando a criatividade

A partir do trabalho de Agamben podemos comparar a interpretação católica para a atuação de Deus no gerenciamento da criação com a mão invisível da economia capitalista, tão defendida pelas correntes de pensamento neoliberais. Destaco nessa formulação uma lógica reveladora para a sociedade ocidental contemporânea: seguimos tratando nossa relação com o mundo com base em como imaginávamos essa relação na idade média. E fazemos política do mesmo  jeito. Como base nas ideias imaginadas antes de nós nascermos e que acabam controlando nossas vidas.

A boa notícia? Segundo minha própria avaliação é o seguinte: se vivemos sob esse controle baseado em imaginação tornada realidade, seria perfeitamente possível tomarmos esse controle e criar nossa própria realidade, nosso próprio jeito de fazer política. Seja como um artista que denuncia práticas perversas do governo, como o jornalista que investiga e comunica essas práticas; ou como o cidadão que faz questão de acompanhar e cobrar seu candidato, ou ainda sendo aquele que decide se filiar a um partido e se tornar ele mesmo um candidato sério, aquele que exercita pacientemente a capacidade de ouvir e conviver com quem pensa diferente, ou também como o pai e a mãe que decidem garantir que a educação de seus filhos tenha sempre a conscientização política e a responsabilidade social da convivência.

Fazer política é assumir o controle e não se deixar ser controlado. Fazer política é ocupar os espaços; estar atento e consciente da responsabilidade da vida coletiva. “A democracia é o pior dos regimes, com exceção de todos os outros”, teria dito Winston Churchill. A beleza da democracia é que ela sempre está em disputa, requer a nossa atenção e colaboração. Viver na democracia é assumir um compromisso contínuo com a criatividade, afinal precisamos resolver os problemas que criamos.  Seja no sistema democrático, ou em outro que sequer foi inventado ainda, cabe a você e a todos nós assumir a política em nossas vidas. Conviver é um exercício criativo! Precisamos treinar. 

Referências

Artigo on-line

Oikonomia trinitária enquanto paradigma da máquina governamental http://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/6876-oikonomia-trinitaria-enquanto-paradigma-da-maquina-governamental 

Filme

Voeten, P. J., Mitchell, D. (Producers) & Miller, G. (Producer/Director). (2015). Mad Max: fury road [Motion Picture]. United States: Warner Bros. Pictures.

Livros

Agamben, G. (2015). O reino e a glória: Uma geneaolgia teológica da economia e do governo [Homo Sacer, II, 2]. Boitempo Editorial.

Glissant, E. (1997). Poetics of Relation (B. Wing, trans.). Ann Arbor: University of Michigan Press. https://doi.org/10.3998/mpub.10257
Said, E. W. (2000). Representações do intelectual: as palestras de Reith de 1993 (1th ed.; T. Seruya, ed.; S. C. José Reis Leal, Inês Castro, Patrícia Palroz, Alcino Malalane, Ana Sofia Pereira, Ana Catarina Martins, Marta Mendonça, Ana Teresa Pinto, Ana João Trindade, Aiana Vieira, trans.). Lisboa: Edições Colibri.

II Seminário Arte pra quê te quero

19 e 20 de janeiro, 19h no canal do esticando no youtube.

O II Seminário Arte pra quê te quero tem como objetivo pensar a relação entre Arte e Sociedade a partir de reflexões envolvendo as áreas de Comunicação, História, Cultura, Política, Filosofia e Sociologia. Com o apoio da Lei Aldir Blanc e da Secretaria de Cultura de Fortaleza – SecultFor vamos discutir o tema: Fortaleza, Cidade Criativa! com os professores que compõem o Laboratório Criativo Esticando a Baladeira. Acreditamos que os temas explorados ao longo dos dias 19 e 20 de janeiro de 2021 contemplem os interesses de diferentes tipos de criativos atuando na cidade de Fortaleza. Desde estudantes de Comunicação, Arte, Design e áreas afins até os profissionais do mercado criativo como produtores culturais, dançarinos, atores, cineastas, músicos, artistas plásticos, ilustradores, quadrinistas e demais artistas independentes, bem como os entusiastas da potente produção cultural fortalezense.

Durante o seminário acontecerão oficinas sobre 4 temas, 2 em cada dia:

Dia 19/01/2021 | Cultura de resistência & Uso da arte como movimento político

Dia 20/01/2021 | Campanha publicitária & Planejamento de marketing digital

Cada oficina tem 1 hora de duração e a segunda é uma sequência do que for desenvolvido na primeira, sem que haja obrigatoriedade de participação em ambas para aproveitamento do conteúdo.

A metodologia de esticar o pensamento será utilizada na construção do produto final das oficinas enquanto ela acontece. Na conversa entre os participantes serão respondidas as questões provocadoras de cada momento das oficinas. Este método está exemplificado nos programas das duas primeiras temporadas do podcast Esticando a Baladeira e também no podcast Histórias Prováveis para Títulos Possíveis.

O produto das oficinas será o desenho de uma campanha sobre o tema das culturas de resistência.

Dia 19/01/2021, 19h

Cultura de resistência & Uso da arte como movimento político

Nossa oficina terá início abordando os conceitos de cultura a partir de autores da grande área dos Estudos Culturais e disciplinas afins. Autores como Raymond Williams, Stuart Hall e Achile Mbembe formam uma base, que se estende de acordo com a participação e desenvolvimento dos trabalhos na oficina.

A proposta se baseia na exposição da proposta seguida da mostra de alguns exemplos de arte decolonial, logo após a conversa será aberta para a participação dos que assistirem o seminário. Tudo será transmitido diretamente pelo Youtube no canal do Laboratório Criativo Esticando a Baladeira.

A oficina finaliza apresentando as questões que construírão o documento coletivo com o desenho de uma campanha on-line:

  • com quem quer resistir?
  • que luta assumir?
  • que voz usar?
  • que bandeira levantar?
  • que pontes construir?
  • que mensagem deixar?

Dia 20/01/2021, 19h

Campanha publicitária & Planejamento de marketing digital

Por definição, uma campanha pressupõe várias peças publicitárias – e não uma peça publicitária única –, que serão veiculadas em mídias diversas. Isso expressa alguns dos requisitos necessários para que seja definida como uma campanha: mais de uma peça, ou peças diversas, a serem veiculadas em mídias diversas.

A principal característica de uma campanha publicitária é que, seja qual for o meio ou ação explorada, as peças que a constituem devem preservar uma identidade entre si, uma uniformidade tanto editorial (textos) quanto visual, para causar sinergia entre eles com objetivo de aumentar o impacto da campanha. Nossa proposta é que essa identidade seja criada a partir do contato com a teoria decolonial.

A campanha publicitária pode ser constituída de peças em diversos meios de comunicação, seja de massa (rádio, televisão, jornais, revistas) ou segmentado (mala direta, telemarketing) que são explorados de acordo com um planejamento prévio de ações obtidos por dados colhidos em Pesquisa de Mercado, no decorrer de um período. Outra modalidade de ação que pode constituir uma campanha é a promocional (degustação, distribuição de brindes em pontos de venda, shows promocionais, desfile de modelos e eventos em geral). O desenho da nossa campanha apresentará opções que permitirão sua posterior aplicação de acordo com as intenções dos que participarem das oficinas.

A oficina finaliza apresentando os itens de uma campanha que se relacionam com o documento coletivo construído no dia anterior, com o desenho de uma campanha on-line:

  • projeto
    • avaliação de recursos disponíveis
    • objetivos da campanha
      • formação da equipe de trabalho (com quem resistir?)
      • definição do público-alvo (que luta assumir?)
      • linha de comunicação (que voz usar?)
      • ferramentas de marketing (que bandeira levantar?)
      • criação de canais (que pontes construir?)
      • forma de entrega da campanha e definição do conteúdo a ser produzido (que mensagem quer deixar?)

Ao término dos workshops, os participantes precisarão preencher um formulário para o recebimento do certificado.

Nos vemos lá =)

Não somos criativos sozinhos

Origens dos mundos

Há passagens nas histórias em que as lendas coincidem. Pequenos trechos, alguns detalhes, que se repetem nos mais diferentes e distantes contos sobre a criação.

Teria surgido aí o mundo inteiro, e com ele a própria criatividade.

Muitas vezes são elementais: ar, água, terra, fogo e espírito; outras vezes seres de imenso poder compartilham a invenção de tudo o que existe. Seres absolutos, esses elementais em cada história tem sempre uma razão de ser na criação, mas nunca estão sozinhos.

Se perguntássemos na antiguidade, seja  no centro da África, nos países gelados do Norte ou nas regiões que dariam origem à Grécia, poderíamos encontrar coincidências curiosas sobre a origem do mundo.

Enquanto lê os próximos parágrafos tente pensar em uma música épica tocando em sua mente, talvez algo da trilha sonora daquela trilogia de filmes: O Senhor dos Anéis.

Assim disse o sábio Griot

Decidido a colocar terra sólida sobre os pântanos sem vida de Olokun, Obatalá – a divindade da criação, foi instruído por Orunmilá – o próprio destino, e construiu o Aiyê. Olorun, o ser supremo, criou então o Sol; E Obatalá modelou os humanos no barro com a ajuda de Oduduá, com quem formou o casal propulsor da vida.

Ao norte, o trovador contava…

Na imensidão vazia de Ginnungagap não havia sequer areia, mar, céu ou terra. Até que surge um reino ao sul feito de fogo – Muspellheimr. E ao norte emanou o reino de ventos gelados, vento e neve – Niflheimr. No meio era o vácuo, até que fogo e gelo colidiram. Tudo era desordem. Mas das gotas deste grande caos, a vida emergiu, na forma de um gigante de gelo. Seu nome era Ymir e os gigantes de gelo são seus descendentes.

E às margens do Egeu, revelava o bardo…

Sobre o imenso corpo fértil de Gaia, os elementos antes em confusão começaram a se organizar, ocupando cada um seu lugar correto. Fogo, terra, água e ar deixaram a mistura caótica de onde vieram. E as curvas generosas de Gaia deram origem a colinas suaves, vales profundos, montes e montanhas. Sob a influência de Eros – o amor, Gaia sentiu o desejo: queria que suas férteis curvas fossem cobertas por um companheiro. Gaia gerou e gestou – sozinha – dois filhos que seriam também seus amantes. Urano – o céu estrelado, e Póntos – o mar salgado.

Acho que agora já estamos no clima certo, é chegada a hora de tentarmos explorar mais detidamente nosso tema retomando a questão que intitula o próximo momento desse texto.

Não somos criativos sozinhos?

Já pensou mesmo sobre isso? Eu tenho pensado sobre essa frase já tem algum tempo. E, sinceramente, não chego a conclusão nenhuma. Principalmente porque tenho viajado pensando nos jeitos diferentes que pode ser dita. Procura que significados surgem em sua mente quando lê: Não somos criativos sozinhos. Interrogação.

Eu consigo elencar algumas possibilidades. Acredito que é possível pensar em algo como:

Não somos criativos sozinhos? Como assim, claro que somos! Fica a ênfase no óbvio.

Não somos criativos sozinhos? Claro que somos. Eu não preciso de ninguém para criar! Já se destaca a importância, ou desimportância que o outro tem pra criar.

Não somos criativos, sozinhos? (juntos até que rola). Se eu estiver usando a frase de um jeito irônico.

Não somos criativos sozinhos? Não sei, o que você acha? Se eu quiser tirar o corpo fora e passar para você o problema.

Você consegue visualizar algo mais?

Isso só me fez ficar mais confuso. Porque no fundo, também pode ser que todo ato de criação – apesar de envolver muita gente – acaba sempre sendo um ato profundamente solitário.

Porque para criar a gente precisa – e muito – de referências, de conversas, de trocas de ideias, influências, resistências, disputas, embates, brigas e até discussões. Mas no fim, para a tal coisa criativa surgir, tiveram de existir muitas horas dedicadas. Horas nas quais você, caro leitor, esteve focado, gastando tempo e esforço, seja sentado na cadeira ou suando em volta da sua obra. Completamente só.

Mesmo aquela jogada brilhante que só foi possível graças ao passe genial e milhares de horas de treinos em grupo, foi o resultado – único, irrepetível e solitário – de uma só pessoa; que também é única, irrepetível e solitária. Pelo menos naquele momento genial e criativo.

Embora a divagação seja importante para introduzir nosso argumento, podemos agora trazer outra voz para o nosso diálogo.

Como viver junto

Tem um cara que conheci lá na faculdade de comunicação, o nome dele é Gérard. Acho massa esse nome, Gérard, muito simpático. Mas a galera costuma chamá-lo mesmo de Barthes. Roland Gérard Barthes é o nome completo dele. Vou ficar com Gérard porque eu acho mais legal.

Gérard foi um escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês. Seu trabalho é uma referência incontornável para as áreas da comunicação e das artes, principalmente para a fotografia. É dele um livro famoso chamado A câmara clara: notas sobre a fotografia (BARTHES, 1984), que discute importantes aspectos estruturais e filosóficos do tema, mas eu queria mesmo era falar de outra obra escrita por ele: refiro-me ao livro que tem um título bastante adequado para a nossa conversa.

Trata-se da obra Como viver junto: simulações romanescas de alguns espaços cotidianos (BARTHES, 2003).

Esse livro explora de um jeito muito legal de entender a atitude de viver junto. Ele não fala de todas as formas disso acontecer, como sociedades, agrupamentos, famílias ou casais. Há isso também, mas a proposta é mais sobre o “viver junto” de grupos muito restritos, nos quais a coabitação não exclui a liberdade individual. O Gérard vai observar grupos monásticos medievais, aqueles que tinham um jeito de se organizar que tentava justamente conciliar vida coletiva e individual. A partir dessa ideia quase que antagônica – como várias individualidades viram uma comunidade sem deixar de serem únicos – ele mostra pra gente o conceito de “idiorritmia”.

Essa “idiorritmia” inclusive era um conceito usado por esses religiosos, os monges.

Se formos ao dicionário podemos conferir a etimologia da palavra, e veremos que ídios quer dizer próprio, e rhythmós é ritmo mesmo. Aliás, esse ídios lembra outra palavra: idiota. Vi que o professor Mario Sergio Cortella tem uma fala explicando a origem, ele conta que para os gregos da Antiguidade Clássica “idiota” era o sujeito que, mesmo sendo capaz de participar da vida pública, escolhia ficar de fora. O cara literalmente decidia se excluir de algo que o implica diretamente. Parece mesmo uma atitude idiota. Engraçado que atualmente quem se interessa pelos assuntos públicos é que é chamado de idiota, ou chato. Interessar-se por política, para muitos hoje, não é normal. Acho estranho. Mas para os monges estudados pelo Gerárd, a relação entre o público e o privado era importante. A tal idiorritmia, o “próprio ritmo”, era mesmo um conceito ao qual eles se dedicavam.

Segundo Gerárd, a idiorritimia era o modo de vida daquele grupo, monges do monte Atos, que – no século X – viviam sós e com liberdade na organização de suas tarefas, mantendo apenas alguns elos com o mosteiro. Na prática eles se isolavam e procuravam falar o mínimo possível, as vezes fazendo mesmo voto de silêncio. Passavam o dia em orações e penitências individuais e só se reuniam para rezar. Era uma comunidade de gente que vivia só. Não acha isso no mínimo curioso?

O livro do Gérard foi o resultado de uma série de aulas que deu em  1977, nessas aulas ele refez o conceito de idiorritmia, pensando nos espaços cotidianos. Ele entendeu que já nessa época nós, enquanto sociedade, caminhávamos em direção a um modo de vida similar à idiorritmia. Uma comunidade de “gente só” ou “a utopia de um socialismo das distâncias”. Ele acabou então fazendo os encontros em volta da pergunta: “a que distância dos outros devo manter-me, para construir com eles uma sociabilidade sem alienação, uma solidão sem exílio?”. Pensamento que mexe diretamente com a nossa intenção nesse texto. 

Se você leu ou for ler o livro talvez entenda melhor do que eu, mas tem uma ideia dessa conversa toda que me impressionou consideravelmente: com essa pergunta, sobre como se faz solidão sem exílio, Gérard consegue perceber a impossibilidade de estar só. Ele aponta algo que, de tão simples, chega a ser engraçado: o exílio, ou a ideia pura de exílio, é impossível. 

Essa impossibilidade se explica pelo simples fato de que a ideia de estar só, por si, implica num outro do qual se quer distância ou isolamento. Ou seja, temos um outro com a gente mesmo quando buscamos ficar sozinhos. Nesse sentido, nunca estamos sós. E a criatividade tem tudo a ver com isso.

A criatividade é um processo coletivo

A essa altura você já percebeu o que a gente quer mesmo aqui dizer. Pois é, não somos mesmo criativos sozinhos.

Se resgatarmos o que discutimos até agora é possível reunir três ideias.

Primeiro, nas antigas lendas, quando a humanidade tentava explicar como as coisas foram criadas, em cada história, sejam deuses ou o que quer que seja; o criativo nunca está só.

Na segunda ideia, inclusive questionamos isso, tentando fazer o advogado do diabo e defendendo a ideia de que sim, no fim das contas quem faz mesmo a coisa, o tal gesto criativo é você – depois de passar por todo um processo cercado de gente –, mas só. Mas não é um pensamento justo. Existe um truque aí. Eu omiti a última etapa de algo que – como já foi debatido na primeira temporada do esticando a baladeira – é um complexo e intrigante processo.

É nesse ponto que encontramos com a contribuição De Roland Gerárd Barthes. O conceito de idiorritmia nos faz perceber o conceito de solidão mais como uma ideia do que como uma prática. Não se pratica solidão, se sente. Mesmo buscando a solidão já levamos em consideração os outros.

Nos três momentos desse texto tentamos tratar de jeitos diferentes um mesmo assunto. Usamos as mitologias, advogamos contra, e filosofamos a partir do raciocínio lógico de um autor renomado. No fim, cada um desses momentos tinham a intenção de defender a seguinte constatação: nossa criatividade leva com ela um grande e importante bocado de gente.

Porque quando você está ouvindo uma música, apreciando arte, pegando referências, você se relaciona com a obra de outros, recebe ideias de outras pessoas. É preciso se conectar com o mundo para detectar os problemas a serem resolvidos. 

Criar acontece em relação, e como toda relação, provoca incômodo. Nos desloca, estimula nossa imaginação, ou pelo menos nos faz pensar melhor sobre algo; 

Os processos criativos estão associados a múltiplos elementos, atuando em conjunto e produzindo um jeito diferente de articulação. 

E um jeito diferente de realizar a partir do que já existe é, justamente, a base da atividade criativa.

A criatividade é sim um processo coletivo. E que bom que é assim, né? Porque de outro jeito seria simplesmente muito chato.

Referências

Barthes, Roland. Como viver junto: simulações romanescas de alguns espaços cotidianos. Tradução de Leyla Perrone Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BARTHES, Roland. A câmara clara: notas sobre a fotografia. Tradução de Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

Shu Ha Ri | O Aikido e sua filosofia criativa — parte 2

Neste artigo continuo a conversa que iniciamos no anterior “O Aikidô e sua filosofia criativa — parte 1” =)

Nesta segunda parte, explico um pouco sobre a origem do Aikidô e abordo um dos aspectos de sua filosofia, que se conecta à forma como seus praticantes aprendem e como que isso se relaciona com a jornada de um profissional criativo.

O Aikidô foi fundado por Morihei Ueshiba (O-Sensei), na primeira metade do século XX, no Japão. Um dos pilares filosóficos e espirituais desta arte marcial era uma religião recente, na época, conhecida como Oomoto-kyu, que pode ser traduzida como “Grande Origem”. Ela possuía raízes no Xintoísmo e acreditava que “Deus é o Espírito que anima todas as coisas e o homem é o administrador de um governo universal. Quando o homem se une com Deus, manifestam-se uma autoridade e um poder infinitos.”

Essa filosofia carregava um série de ensinamentos tradicionais japoneses. Entre eles, o Shuhari, que já havia sido incorporado por outras artes marciais antes mesmo do Aikidô.

Shuhari é conhecido como a sintetização do processo de aprendizagem de uma arte, seja ela marcial ou não, e se divide em três estágios: (Shu, 守:しゅ: obedecer/proteger; Ha, 破:は: romper/modificar; Ri, 離:り: separar/superar).

No estágio Shu, o praticante iniciante é apresentado à filosofia, à estrutura dos golpes e repete exatamente aquilo que lhe foi falado, corrigindo os erros apontados pelo seu mestre e refinando sua arte a cada novo golpe.

Após muito treino, o aprendiz domina as regras básicas de sua arte e encontra a sua própria forma de fazer alguns movimentos. Este estágio é conhecido como Ha.

Finalmente, o aluno se torna mestre e passa a sentir sua própria arte, abandonando as regras básicas e se torna naturalmente criativo, alcançando a liberdade de ser aquilo que tanto praticou. Ele alcançou o estágio Ri, o último de seu processo de aprendizado.

Após compreender estes três estágios, fica mais fácil compreender o caminho para a criatividade, pelo olhar da cultura japonesa e suas artes marciais: 1) aprender o básico e obedecer fielmente aquilo que lhe é ensinado; 2) dominar as regras básicas e descobrir sua própria forma de fazer; 3) alcançar a liberdade do fazer e, assim, criar.

Podemos traçar um paralelo do Shuhari com o aprendizado de diversas softs skills. O calígrafo, por exemplo, precisa aprender a forma das letras em determinados estilos de escrita e praticá-las até que seu corpo aprenda a reproduzi-la perfeitamente. Após este treino, ele passa a reconhecer características de seu estilo em sua grafia e os incorpora à sua forma de caligrafar. Por fim, ele alcança o estágio de escrever com seu corpo e alma. Suas letras saem belas não importa de que forma as faça ou quais ferramentas utilize. Ele está em Ri.

Algo próximo também ocorre com os músicos. O jazzista Clark Terry, no artigo3 passos para aprender improvisação, revela que a arte de aprender a improvisar está em três palavras: imitaçãoassimilação inovação. Terry defende, portanto, que se faz necessário imitar os artistas que admira e, com a prática, começar a compreender as pequenas nuances escondidas entre as notas. Isso só será possível ao conseguir incorporar à sua mente não consciente todos os movimentos necessários com exatidão. Só assim a ginga, os tempos e as harmonias passarão a se destacar em seus ouvidos e será possível iniciar a construção de seu próprio estilo. Com isso, poderá improvisar com liberdade e assertividade. Para Terry, não é possível improvisar verdadeiramente sem que os passos da imitação e da assimilação tenham sido percorridos exaustivamente.

Graças a Terry, percebemos a importância do rigor em adquirir repertório. Isso mesmo. Ao treinar exaustivamente e buscar referências em seus ídolos, o criativo inicia seu processo de criação e gestão de seu próprio repertório. Ele primeiro trilha os caminhos de seus mestres e, durante o caminhar, identifica aquilo que faz parte de seu estilo e o absorve. Aquilo que aprende e percebe que não faz sentido para sua jornada, descarta gentilmente.

Muitos criativos acreditam em fórmulas mágicas, cursos reveladores e metodologias inovadoras que prometem desbloquear sua criatividade e torná-lo criativo da noite pro dia.

Cuidado.

Você já é criativo.

Você sempre foi criativo.

Talvez só tenha parado de praticar. E praticar, como vimos, é apenas o primeiro estágio de uma longa e criativa caminhada.

Um dos sintomas que mais identifico em sala de aula e no mercado (e em mim, muitas vezes) é a necessidade de querer queimar etapas do processo criativo e acreditar que sua primeira ideia é a melhor. Que a crítica do colega é recalque ou exagero porque seu trabalho está perfeito. Que o ponto de vista do design ou de outra área mais ligada às soft skills seja considerado secundário e até mesmo irrelevante em projetos multidisciplinares.

Novamente, cuidado.

Boa parte destes argumentos refletem uma dormência artística e até mesmo certa preguiça em percorrer o duro caminho do desenvolvimento técnico e criativo. Cada apontamento, cada refação e cada sugestão lapidam o seu estágio de Shu e ignorá-los fatalmente o aprisionará logo no início de seu aprendizado. Sempre há algo a melhorar.

Essa é a magia do caminho do guerreiro. Do bom combate.

Até a próxima parte desta esticada!

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O Aikido e sua filosofia criativa (parte 1)

Fui apresentado superficialmente ao Aikido da mesma forma que a maioria dos jovens expostos à TV aberta dos anos 90: pelos filmes do Steven Seagal.

Steven Seagal | Difícil de Matar

Por muitos anos pensei que o Aikido fosse apenas mais uma arte marcial performática que rompia ligamentos e quebrava ossos. Quem diria.

Embora tenha praticado artes marciais “meia-bocamente” ao longo da vida, sempre tive a ideia de que se exercitar por meio da prática de uma arte marcial seria mais interessante do que ir à academia. Porém, por ser professor, a ideia de ministrar aulas com a cara roxa ou com um braço torcido me afastou de praticar algumas modalidades. Além disso, o espírito de competição excessiva fomentado por UFCs e cia. contaminaram diversas artes e academias, o que contribuiu de certa forma para que não me adaptasse à alguns locais que frequentei. Ainda assim, a busca da filosofia por trás de cada arte marcial me fez praticar Judô por quase dez anos e Kung-fu por quase dois. Me identifiquei muito com cada uma delas, mas ainda havia algo que faltava, mesmo sem saber o que era.

Certa vez, em um curso interno de “resolução de conflitos” no Senac, o Aikido foi citado constantemente pelo professor como uma arte que tinha como filosofia o não enfrentamento. Em quase todas as explicações sobre como se portar em conflitos do cotidiano, o Aikido aparecia em sua fala como uma resposta leve e profunda. E essa característica tão peculiar me fisgou.

Fui em busca de um dojo e encontrei a Samuru Aikido, do Sensei Saulo Martins, na boa e velha Zona Norte de São Paulo. Fui apresentado por ele aos movimentos básicos e logo percebi a diferença desta arte marcial para tantas outras: suas técnicas buscavam não usar força alguma para se defender. Para tanto, seria necessário harmonizar-se integralmente com a energia do seu oponente. As demonstrações feitas pelo Sensei foram executadas com movimentos aparentemente simples e obtiveram resultados tão impressionantes que fiquei me perguntando se não estaria presenciando uma luta simulada, ao estilo lucha libre.

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Lucha Libre

Com poucos treinos já percebi que a prática do Aikido revelava características profundas em seu praticante. Cada movimento se tornava uma verdadeira aula de como perceber o outro e se unir a ele em rápidos momentos. Suas técnicas se originam do manejo de armas orientais, como a famosa katana, a espada samurai.

Katana

Para a cultura japonesa, tudo está conectado. A alimentação se relaciona com a agricultura familiar. A decoração do lar se relaciona com os fluxos de energia. Os arranjos de Ikebana são um reflexo do interior de quem os prepara, da mesma forma que o jardim de uma pessoa reflete seu estado de espírito. O praticante do Aikido se conecta com sua espiritualidade, sua religiosidade e com o próximo, na busca de harmonizar-se com o universo.

E o que isso tem a ver com criatividade?

Pra quem já segue o Esticando a Baladeira, sabe que uma das etapas vitais do processo criativo é o exercício da empatia, do deixar-se afetar. Embora isso seja apenas uma leve flertada com o tema, nos próximos artigos irei aprofundar mais essas relações entre a prática do Aikido e a criatividade. Será que dá pra esticar mais esse assunto?

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Como falar sobre Criatividade?

Eu pretendia apresentar uma forma criativa de falar sobre criatividade, o que, além de redundante e, talvez, metalinguístico, é provavelmente uma obviedade e também uma piada sem graça. Mesmo assim, pensei seriamente sobre como fazer: talvez de um modo em que você leitor pudesse interagir, compondo junto comigo – e em tempo real – o conteúdo do que for discutido, talvez a apresentação de esquetes e efeitos auditivos disparados a medida em que você lê, capazes de lhe envolver e emocionar, ou ainda um modo de apresentação onde todos pudessem acompanhar o desenvolvimento do conteúdo à medida em que seguissem por uma exposição de peças artísticas, dedicadas a fruição presente nas mais originais obras… De fato me senti incapaz de definir o que considerasse algo “verdadeiramente criativo”.

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